O Escândalo do Leite Adulterado em Minas Gerais: 17 Anos Depois, o Gosto Amargo da Fraude Ainda Persiste
Em maio de 2007, o Brasil se chocava com a revelação de um esquema que colocava em risco a saúde de milhões de consumidores: o leite vendido por grandes marcas estava sendo adulterado com produtos químicos tóxicos. A fraude, descoberta pelo Ministério da Agricultura em parceria com o Ministério Público de Minas Gerais, envolvia cooperativas, transportadoras e químicos contratados para maquiar a má qualidade do leite cru entregue às indústrias.
A rota da fraude
As investigações, batizadas de Operação Ouro Branco, revelaram que duas cooperativas mineiras estavam no centro do esquema:
- Coopervale, com sede em Uberaba (Triângulo Mineiro);
- Casmil, de Passos (Sul de Minas).
Ambas atuavam na coleta de leite de centenas de produtores da região. O leite, muitas vezes com acidez elevada ou fora dos padrões sanitários, era "tratado" com substâncias como soda cáustica, água oxigenada, ácido cítrico, sal e até açúcar. O objetivo era simples: enganar os testes de qualidade e evitar o descarte do produto.
Segundo os promotores, a prática era institucionalizada. Pedro Renato Borges, químico da Coopervale, foi apontado como o responsável por desenvolver a fórmula que sustentava o golpe. Já na Casmil, o presidente Dácio Del Fraro e outros dirigentes também foram presos. Até um fiscal do Ministério Público foi investigado por suspeita de acobertar a fraude.
Marcas atingidas, imagem arranhada
Embora não fossem responsáveis diretas pela adulteração, empresas como Parmalat, Centenário, Calu e outras tiveram suas marcas associadas ao escândalo, por terem comprado leite das cooperativas envolvidas. Algumas chegaram a suspender contratos e intensificaram os controles de qualidade internos.
A Parmalat, por exemplo, já havia passado por grave crise anos antes, após o colapso da sua matriz italiana em 2003. À época do escândalo, a operação brasileira já estava sob controle de novos investidores, mas a revelação da fraude agravou ainda mais a perda de credibilidade no setor.
Consequências e punições
A repercussão foi nacional. O caso ganhou espaço nos principais telejornais e levou à suspensão da venda de lotes de leite em diversas redes de supermercado. A população reagiu com desconfiança, e as vendas do produto despencaram temporariamente.
Vários envolvidos foram denunciados por formação de quadrilha, estelionato, adulteração de alimentos e crime contra a saúde pública. No entanto, como de costume no Brasil, parte dos processos se arrastou por anos, com penas convertidas em serviços comunitários e multas.
Legado: mais fiscalização, menos confiança
O escândalo de 2007 marcou o setor lácteo brasileiro. A partir dele, o Ministério da Agricultura passou a exigir controle mais rígido da cadeia de produção, com mais testes laboratoriais e fiscalização nas rotas de transporte. Mas o episódio também deixou cicatrizes: a confiança do consumidor no leite industrializado levou tempo para ser reconstruída.
Quase duas décadas depois, o caso serve como lembrança de que ganância e falta de controle podem colocar em risco algo tão básico quanto o leite na mesa do brasileiro.
